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A canonização da Santa de que o Brasil precisava

Por Folhapress

A religiosa baiana Maria Rita de Sousa Brito Lopes Pontes, a Irmã Dulce, foi canonizada domingo (13) pelo papa Francisco e se tornou a primeira santa brasileira. Ela teve dois milagres reconhecidos pela Igreja Católica e agora passa a ser chamada de Santa Dulce dos Pobres.

A cerimônia de canonização aconteceu na Praça São Pedro, no Vaticano, em frente à basílica de mesmo nome, com duração de cerca de duas horas. Iniciada às 5h10 (horário de Brasília), a missa teve uma liturgia específica para canonizações.

Logo após cantos iniciais e a saudação do papa, o cardeal Angelo Becciu, prefeito da Congregação das Causas dos Santos, fez o pedido formal ao pontífice para que cincos beatos fossem considerados santos.

Além de Irmã Dulce (1914- 1992), foram canonizados o britânico John Henry Newman (1801- 1890), a italiana Giuseppina Vannini (1859 -1911), a indiana Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan (1876 -1926) e a suíça Marguerite Bays (1876 -1926).

No altar, armado à frente da basílica de São Pedro, foram colocadas relíquias dos novos santos. Em seguida, foi rezada a “Ladainha de Todos os Santos”, o que só ocorre em momentos solenes da Igreja Católica.

Uma canonização só acontece diante do papa, no Vaticano, diferentemente da beatificação, que pode ser realizada no lugar de origem do religioso. Francisco, então, iniciou a fórmula da canonização, falando em latim:

- Pela honra da Santíssima Trindade, pela exaltação da fé católica e o fortalecimento da vida cristã, com a autoridade do Nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e nossa, depois de haver longamente refletido, invocado tantas vezes a ajuda divina e escutado o parecer de muitos dos nossos irmãos no episcopado, declaramos e definimos santos os beatos.

Após citar o nome dos cinco novos santos, declarou:

- Inscrivamo-los no álbum dos santos, estabelecendo que eles sejam venerados assim por toda a igreja. Em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo.

Na homilia, o pontífice argentino lembrou que três dos cinco santos eram freiras que mostram para todos que a vida religiosa “é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo”. A pobreza e o cuidado com os excluídos sociais são assuntos frequentes na agenda de Francisco desde que ele foi eleito papa, em 2013.

O processo de canonização da baiana foi o terceiro mais rápido da história da Igreja Católica (27 anos após sua morte), atrás apenas do papa João Paulo II (1920- 2005) e de Madre Teresa de Calcutá (1910-1997), cujo trabalho social foi comparado ao de Irmã Dulce nos últimos dias.

Segundo o Vaticano, 50 mil fiéis acompanharam a celebração dentro da praça, cujo acesso era permitido após passagem por detector de metais. Outras pessoas assistiram à cerimônia do lado de fora, dois telões e sistema de som fizeram a transmissão.

Após a canonização dos santos, o papa realizou o Angelus, uma tradicional benção de domingo na qual o pontífice costuma ficar em uma das janelas do Vaticano. 

Desta vez, ele rezou do mesmo palco onde celebrou a missa, quando citou os distúrbios no Equador, o recrudescimento da violência na Síria e fez menção a dois dos cinco representantes dos países de origem dos novos santos: o presidente da Itália, Sergio Mattarella, e o príncipe Charles, que representava o Reino Unido.

Francisco não citou o vice- -presidente brasileiro, Hamilton Mourão, também presente, nem os representantes de Suíça e Índia; os três países ganharam menções genéricas.

A comitiva brasileira, liderada por Mourão - o presidente Jair Bolsonaro alegou problemas de agenda para não viajar a Roma -, tinha ainda outras autoridades e suas respectivas acompanhantes, como os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), do Senado, Davi Alcolumbre (DEM- -AP), do Supremo Tribunal Federal, Dias Toffoli, o procurador-geral da República, Augusto Aras, além do prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM).

O ex-presidente José Sarney, um dos políticos mais próximos de Irmã Dulce, também fazia parte do grupo. Ele se sentou próximo ao príncipe Charles. Os demais políticos e autoridades brasileiras presentes, como o governador da Bahia, Rui Costa (PT), estavam na plateia, que tinha ainda arcebispos, bispos e cardeais, além de inúmeros padres e freiras.

Os postuladores dos cinco santos (responsáveis pelo processo de canonização junto ao Vaticano), além dos miraculados, sentaram próximo das autoridades.

TRAJETÓRIA DE FÉ

Nascida em Salvador, Irmã Dulce, que ficou conhecida como “Anjo Bom da Bahia”, teve uma trajetória de fé e obstinação na qual enfrentou as rígidas regras de enclausuramento da Igreja para prestar assistência a comunidades pobres da cidade.

A jovem ingressou na vida religiosa como noviça na Congregação das Irmãs Missionárias da Imaculada Conceição, em São Cristóvão (SE). Em Salvador, Irmã Dulce passou a se dedicar a ações sociais. Em 1959, ocupou um galinheiro ao lado do Convento Santo Antônio e improvisou uma enfermaria. Na época, ela retirou das ruas da cidade 70 doentes. 

Em 1960, a freira inaugurou o Albergue Santo Antônio, que depois acabou originando o complexo hospitalar, inaugurado oficialmente em 1983.

Esse foi o embrião das Obras Sociais Irmã Dulce, que atualmente atende uma média de 3,5 milhões de pessoas por ano.

Para marcar a canonização de Irmã Dulce, o governo federal anunciou terça-feira (15) a liberação de R$ 18 milhões para o Hospital Santo Antônio (HSA), unidade de saúde pertencente às Obras Sociais Irmã Dulce (Osid), no bairro de Roma.

No Palácio do Planalto, o presidente Jair Bolsonaro se disse feliz com a canonização da religiosa baiana:

- Nós temos uma santa brasileira, Irmã Dulce dos Pobres. E o que fica da obra dela é nós tentarmos ser pelo menos um dia por ano ser o que foi Irmã Dulce. Uma mulher que levou esperança para muita gente, seu sacrifício, sua determinação. Levou o bem, tirou as dores e curou muita gente aí - afirmou o presidente. - Estamos muito felizes com este momento, afinal de contas, uma parte considerável da população brasileira é católica, e a grande parte da população é cristã.

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