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Imprensa transforma em “crise” faxina partidária na base do Presidente

Por Cláudio Magnavita (Editor chefe do Jornal Correio da Manhã)

Não é a primeira vez que Jair Bolsonaro realiza um freio de arrumação para colocar em ordem o alinhamento da sua vida partidária com a coerência das suas afirmações. Ninguém duvida do seu tirocínio político, já que chegou ao posto mais alto da nação realizando uma campanha sem recursos, sem fundo partidário, sem caixa 2 ou doadores milionários.

O que setores da imprensa, principalmente aqueles que torcem para que o circo pegue fogo e incinere o atual ocupante do Planalto não compreendem é a legitimidade do Presidente Bolsonaro em exigir ordem e transparência na legenda que cresceu de forma espetacular, 100% graças aos princípios defendidos por ele nesta contenda com o cartola Luciano Bivar, que de maneira opaca dirige o partido e o milionário fundo partidário de R$ 400 milhões que passou a ter após o fenômeno Bolsonaro nas urnas e dos 52 deputados federais que pegaram carona nesta onda eleitoral. Alguns deles não teriam condições de se eleger síndico de um Minha Casa/Minha Vida.

O melhor momento para arrumar a casa e definir o seu caminho partidário é esse. Está no primeiro ano do mandato, não é ano eleitoral e nestes dez meses de governo pode sentir a necessidade de separar o joio do trigo, expurgando os oportunistas que se iludem como se o mandato ganho de presente pelo inusitado pleito de 2018 fosse direito divino.

Os analistas políticos incendiários da mídia oposicionista, se equivocam e não entendem o tirocínio de Bolsonaro e da sua verborragia servindo de anticorpo contra a contaminação de mal feitos e de caixas pretas.

Ele é um raro caso de coerência ideológica na vida política. Para disputar a presidência precisaria de uma legenda sem passivos. O PP estava envolvido nos mesmos escândalos que tragou o PT.

Surgiu no horizonte a bandeira conservadora do socialismo cristão e o PSC foi seu caminho natural. Só que havia uma pedra no meio do caminho, o Pastor Everaldo Pereira, que tinha tomado o comando do seu fundador Victor Nosseis  com a sua fala mansa e olhar sempre vitimizado. A sagacidade de Everaldo, que teve como mentor o deputado Eduardo Cunha, seu hospedeiro em Brasília, foi tanta que até batizou o deputado Bolsonaro no Rio Jordão.

Acreditando na vaidade da sua nova estrela, a exemplo do que faz hoje com o seu pupilo que governa o Rio, ele abriu seu balcão de negócios e fechou com o PCdoB do Maranhão, além de passar a sacola de ofertas para empresários que já acreditavam no fenômeno Bolsonaro.

A inesperada reação do deputado Jair Bolsonaro o pegou de surpresa. Para manter a sua coerência política, em um famoso vídeo que bombou na internet, o então deputado, ao lado do seu filho Flavio, disse cobras e lagartos do Pastor mercantilista e rompeu publicamente com a legenda.

Como manter intocável o seu discurso se a legenda escolhida abraçava os comunistas no Maranhão? Hoje já se fala até de uma candidatura presidencial de Wilson Witzel, tendo como vice o Governador do Maranhão Flavio Dino.

Na busca derradeira por uma legenda, surgiu o PEN, um partido que recebeu novo nome exatamente para cortejar o candidato a Presidente, sendo rebatizado de Patriota. Nas negociações, que foram muito adiante, o presidente da legenda chegou a oferecer o comando de toda a legenda ao candidato. Literalmente carta branca.

Havia, porém, uma macula, o Patriota tinha subscrito como autor uma ação que contrariava um dos pilares do discurso do Bolsonaro. Acionado pelo estrelado advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, Kakay, o partido entrou com uma ação na justiça contra a decisão de prisão a partir da condenação de segundo grau.

É nesta fase que surge Gustavo Bebianno, como advogado, introduzido no clã do Bolsonaro pelo fiel escudeiro, Gutemberg Fonseca e que aceitou trabalhar como voluntário, sem nenhum tipo de arrumação. Em um contexto franciscano, no qual faltava até cadeira, Bebianno foi ganhando espaço e virou o verdadeiro departamento jurídico do pré-candidato.

Foi acordado o substabelecimento de procuração do PEN para o Bebianno, para entrar no processo e solicitar oficialmente a desistência, segundo o presidente da legenda Adilson Barroso de Oliveira foi o início da rusga dele com o assessor jurídico. Segundo Adilson, para advogar para a legenda foi pedido uma remuneração mensal de R$ 30 mil reais e para limpar o cadastro do partido com a baixa da ação o valor passaria para R$ 1 milhão. A proposta não foi aceita e imediatamente foram abertas as negociações com o cartola do Sport Recife e dono da legenda PSL, Luciano Bivar.

Na prática Bivar deve ao Bebianno a sua grande guinada na vida pública. Durante a campanha ele passou a presidência do partido de forma temporária ao advogado, foi cuidar da campanha, se elegendo para a Câmara Federal e quando recebeu a legenda de volta ela tinha se tornando a segunda bancada do congresso com 54 deputados. Antes de Bolsonaro a legenda tinha apenas dois.

Em 2020 o PSL terá um fundo partidário de 400 milhões e o comando feito de forma familiar pela família Bivar poderia contaminar de forma inquestionável a sua principal estrela. Sem controle e transparência o PSL é uma bomba relógio armada e pronta para explodir no colo do capitão. 

A faxina passa também pelos oportunistas eleitos pela legenda, como o ator de filmes proibidos Alexandre Frota, que foi o primeiro a pular fora, e outros que tiveram a ilusão que teriam poder de fazer indicações no Governo.

A conquista do mandato trouxe para estes surfistas eleitorais a sensação se poder, mesmo que acabem sendo parlamentares de um único mandato. A legenda só fez um ministério, o do turismo. Para o cargo Bolsonaro escolheu um amigo, que esteve inclusive ao seu lado no momento da facada em Juiz de Fora e foi um dos primeiros a socorre-lo. Foi uma escolha pessoal. Aliás, o deputado Marcelo Álvaro Antônio, ministro do Turismo foi a primeira vítima desta briga antropofágica do saco de gato que virou o  PSL, sendo acusado e até indiciado sem que haja um única linha no inquérito que aponte um dolo seu. Tem sofrido ataques por uma questão local do próprio partido.

Ao promover um freio de arrumação, o presidente inverte a situação, deixa de ser refém de uma legenda oportunista, com gestão obscura, jogada no seu colo por pessoas que hoje perderam a sua confiança, em detrimento de uma opção partidária que hoje voltar a ser sua opção.

Quem lê os jornais ou escuta as perguntas feitas pelos jornalistas na viagem ao Japão ao Presidente ou assiste os telejornais fica com a impressão que o Governo vive uma grande crise política. Já quem frequenta os gabinetes do Palácio do Planalto a realidade é bem diferente. Já se sente o perfume de da água sanitária e desinfetante usado para fazer uma limpeza pesada e eliminar os germes trazidos pelo tsunami eleitoral que elegeu vários oportunistas neófitos em 2018 e que como germes começavam a contaminar a base governamental. A meta agora é ter um porto seguro partidário que garanta o bem-estar dos próximos dois terços do governo Bolsonaro.

Link do vídeo: Bolsonaro criticou direção do PSC

*Publicado na edição 23.443

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