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Redes sociais explodem bolha eleitoral de Witzel

Por Cláudio Magnavita

As reações nas redes sociais esta semana demonstram que a bolha política de Wilson Witzel (PSC) foi explodida pelo duro ataque que sofreu do presidente Jair Bolsonaro, citando-o nominalmente como o responsável pelo vazamento do noticiário que o envolvia na apuração do assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), em março de 2018.

O mesmo fenômeno que  resultou na eleição de WW ao Governo do Rio ocorre agora ao contrário, como uma verdadeira onda, fazendo disparar em mais de dois mil por cento os comentários negativos contra Witzel nas postagens.

O descolamento da família Bolsonaro teve efeito imediato na página oficial do Facebook. A média de comentários nos últimos 30 dias não ultrapassava duas centenas. Sempre elogiosos e de visíveis fãs. A média de visualizações não ultrapassava a faixa de 500 internautas, com algumas exceções - como a postagem de que as milícias estariam com dias contados, com exatas seis mil curtidas e 864 comentários no dia 16 de outubro.

O recorde foi no dia 22 de outubro, sobre a ida ao jogo do Flamengo, com 9.100 curtidas e 1.900 comentários, todos turbinados pela onda rubro-negra.

No dia seguinte, a postagem fora do clima emocional caiu já para 152 comentários. A notícia da volta da geral ao Maracanã, no dia 23 de outubro, chegou a 1.200 comentários e 10.300 curtidas, e novamente o uso da camisa rubro- -negra turbinou as fotos.

A leitura dos textos mostrava que tinha sido criada uma bolha repleta de admiradores e de pessoas ligadas à estrutura governamental. Algo porém ocorre já na terça- -feira, dia 29, quando o Face oficial dispara. Sobe para 3,7 mil curtidas e mil comentários. Só que, desta vez, o governador é colocado nas cordas por internautas furiosos, não poupando críticas ao quadro criado horas antes pelo violento desabafo do presidente Bolsonaro.

A mudança de tom é surpreendente. É como se uma legião de eleitores tivesse instantaneamente mudado de posição e tirado o Witzel do pedestal, algo parecido com a queda da estátua de Stálin em Moscou, só que, agora, via digital.

A reação à primeira postagem, de 11h32m, já trazia registros como o realizado por Sergio Rodrigues Soares: “Enterrou sua carreira! Fanfarrão”. Foi o primeiro a iniciar a artilharia. Na mesma terça, às 16h32, a postagem da solenidade de abertura da OTC, também teve mil comentários e 1.500 visualizações. Dois terços de internautas como o Eurides Almeida:

“Que horrível você também hein, governador! Venceu as eleições graças ao apoio da família do nosso presidente e já o traiu falsamente! Já comecei minha campanha junto a minha família e meus amigos contra você!”

LENHA NA FOGUEIRA

A resposta da #EquipeWitzel não funciona e só atira mais gasolina na fogueira. Eles escrevem:

“O governador está sendo acusado, sem nenhuma prova, de um crime grave: vazar dados de um processo que corre em sigilo de justiça. Como ex-juiz, o governador foi eleito para moralizar a administração do RJ, devolver a paz a população e fazer o Estado voltar a crescer. O governador reafirma seus compromissos e lamenta profundamente as acusações feitas pelo presidente Jair Bolsonaro por quem tem respeito e apreço”.

A equipe comenta o seu primeiro erro, reconhece que a acusação é grave e reforça a sua autoria a Bolsonaro. Coloca na rede social o conflito. Os comentários negativos disparam. Andreia Moura escreve (e preservamos a grafia original):

“VEREADDE NINGUÉM TE CONHECIA MESMO. VENCEU A ELEIÇÃO, COM APOIO DO NOSSO PRESIDENTE, GRAÇAS À ELE, VIL GOVERNADOR!!! ME ARREPENDOI MUITO DE TER VOTADO EM VC. Ñ TEM NADA Ñ, VC Ñ GANHA P/MAIS NADA!!!”

Na mesma sequência, Vanessa Santos escreve:

“Está pensando em lançar voos mais altos, não é? Só lembre de quem você era na campanha, ninguém! Lembre também que foram os eleitores do Bolsonaro que te colocaram aí e daí não passará”.

CRISE TURBINADA

O vídeo de Bolsonaro viralizava e, com a divulgação no horário nobre das emissoras, a situação fica crítica para Witzel. É no auge da crise que uma postagem na madrugada de terça para quarta só agrava a crise. Eles resolvem confrontar o presidente, e o texto começa:

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro’”.

Tenta novamente se abrigar no fato de ter sido magistrado, técnica usada sempre quando é criticado, inclusive usada na forma que reagiu a artigo do CORREIO DA MANHÃ. Ocorre neste momento o estouro da boiada. Esta postagem teve 14 mil comentários, 99% negativos e 11.600 curtidas.

Além de comentários impublicáveis, alguns são até moderados e dão a margem a uma recuperação eleitoral como o de Marcelo Guilarducci, proprietário da empresa Mania de Festas Buffet:

“Votei em vc governador mais esta pisando na bola... se vc esta realmente comprometido com a ética como diz, desmente a rede Globo então... farei questão de compartilhar sai live.”

Os eleitores continuam com seu protesto. Na postagem realizada quarta-feira, às 9h02, sobre a operação Segurança Presente em Nova Iguaçu, novamente surgem 2.700 comentários, 99% negativos. Nesta nova leva, Erivelton Ossos Quebrados, engenheiro civil e funcionário da Construtora Pilar de Nova Iguaçu, segundo seu perfil que está no ar desde 2012, afirma: 

“Governador cuidado com seus sonhos, pois podem virar pesadelo, pense primeiro em governar o Rio de forma correta. Meu voto foi justamente pelo apoio do presidente na sua campanha.”

Ao tentar voltar ao assunto, reproduzindo as manchetes nas quais se diz atacado injustamente, Witzel é novamente bombardeado. São sete mil comentários, todos em clima de desabafo.

O inacreditável é que as respostas da #EquipeWitzel passaram a ser automáticas e com uma mudança de tom. As últimas desistiram de atacar o presidente e começam a elogiá-lo. E simplesmente evaporou o pequeno batalhão de admiradores, nunca mais de 200, que acompanha suas postagens elogiosas. Não há qualquer pessoa disposta a fazer o contraponto em defesa do governador, além do ”robozinho” que realiza as postagens automáticas das respostas.

A ironia é a visível mudança de tom. A #EquipeWitzel passou a postar no dia 31: “O governador Witzel nunca fez nada para prejudicar o presidente Jair Bolsonaro, por quem sempre teve respeito. A população do RJ precisa de união e trabalho. Não de briga política”.

Até o fechamento desta edição os comentários continuam 1.000% acima da media da página do governador, e os ataques mostram o lado volátil do eleitorado que votou no Witzel na onda Bolsonaro.

Alguns fatos ajudam a agravar este conflito. Witzel não contestou a “Veja” e “O Globo”. Ele fala em ser contra o vazamento, porém no Clube Naval ele conversou com o presidente sobre o processo que estava em segredo de Justiça. Ao passar da linha e tentar administrar uma informação privilegiada, ele gerou um fato que contradiz todo o seu discurso de defesa.

 

 

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