Coluna Magnavita: O fantasma do Laranjeiras

Da forma que está, Witzel segue os passos de Dilma

Por Cláudio Magnavita*

O governador Wilson Witzel colhe na sua relação com o parlamento o que plantou. Depois de ter sido comandado por Paulo Mello e Jorge Picciani, que atuavam de forma imperial, privilegiando um grupo pontual de deputados, a casa sob comando de Andre Ciciliano atravessou um processo democrático histórico.

Na atual legislatura, afetada já no início pela operação Furna da Onça, que alterou a formação inicial da mesa casa, gerou uma elogiável pulverização de poder, onde cada parlamentar passou a ter a sua importância e ajudou a formar um espírito de corpo que há muito tempo a Alerj não vivia.

Na valorização do legislativo fluminense, deve-se incluir também a mudança física da Assembleia para uma sede de primeiro mundo. O deputado estadual passará a ter uma estrutura de primeiro mundo para o exercício do seu mandato. Houve uma época em que um vereador da capital possuía mais recursos do que um deputado estadual.

É importante compreender este cenário para entender o ponto de ruptura em que se encontra o Governo Witzel e os deputados estaduais.

A construção da ponte de relacionamento, que ocorreu com a chegada do ex-deputado André Moura na Casa Civil, foi muito mal avaliada pelo próprio governador, na exoneração sumária do seu colaborador, interrompendo o diálogo com o Legislativo.

Além de ter retirado um ex-parlamentar, que foi líder de governo no Congresso e que vivenciou o impeachment da Dilma, o governador preferiu acreditar na cartilha mercantilista de Lucas Tristão que, menosprezando novamente os deputados estaduais, achou que trocando a coação por dossiês poderia recompor agora a base, com a compra de fidelidade e entregando secretarias.

Tirou André Moura e escalou exatamente quem tinha antes, tentando acuar os deputados, colecionando detalhes da vida de cada um. Tristão convenceu Witzel que a conquista da maioria seria fácil: bastava “comprar” os deputados oferecendo secretarias.

Não compreendeu que, na atual legislatura, o deputado estadual quer ser tratado de forma respeitosa, que o peso do mandato impõe.

O primeiro golpe que recebeu foi descobrir no dia seguinte que o líder e vice-líder do governo entregavam seus cargos. A sangria começou na própria legenda partidária. O efeito foi dominó.

O fim de Dilma Rousseff foi igual. Ela caiu quando achou que poderia barrar o impeachment, oferecendo cargos aos deputados e senadores. Cometeu o mesmo erro ao desvalorizar o parlamento. Ela oferecia e ninguém aceitava. Exatamente o que está ocorrendo agora.

A liderança e a vice ainda estão vagas. Deputados recusam arriscar sua reputação em um governo ameaçado por operações policiais e prisões.

Todas as pastas ainda ocupadas por leais colaborares estão sendo rifadas, sem remorso. Turismo, Cultura, Transportes, Esportes, Governo, Ciência e Tecnologia e até a Educação que, em breve, por motivo de força maior, deverá ficar vaga.

No fim de semana, só uma pequena parte dos deputados aceitaram a conversa de pé de ouvido no Guanabara. Foi um fiasco.

A semana abriu com o Tristão saindo de férias, uma saída de cena fictícia, que novamente menospreza a inteligência do parlamento estadual.

Da forma que está, Witzel segue os passos de Dilma. Sendo instaurado o processo de impeachment, ele será afastado e ficará residindo nas Laranjeiras como um fantasma político, como a Rousseff ficou no Alvorada.

Na sua jornada de se transformar em espectro fantasmagórico na política fluminense, o governador descobre tardiamente que o seu maior erro foi considerar a Alerj como um mercado persa, no qual poderia comprar a proteção para um mandato afundado em escândalos e erros de um primarismo político assustador.

*Cláudio Magnavita é diretor de Redação do Correio da Manhã