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Bem-vindo ao clube

Uma manchete de jornal me informa que o Facebook sabe o tempo todo onde você está. Mesmo com a “função de geolocalização” desativada, ele analisa os aplicativos com que os seus dedinhos passam o dia brincando e isso basta para determinar o que está fazendo, onde, quando, como, por que e com quem. Portanto, abra o olho: a velha desculpa da ida ao dentista ou ao Maracanã já não é à prova de flagra. Uma reles rapidinha numa quarta-feira à tarde há quatro ou cinco anos pode ser rastreada hoje e usada contra você no tribunal. Por sorte, o Facebook tem mais com que se ocupar do que com os seus baixos meridianos.

Ele está mais interessado em vasculhar sua cabeça – ideias, conceitos, preconceitos, hábitos de leitura, número de amigos e sua capacidade de influenciá-los. Mesmo as suas postagens mais bobas, como a foto do cheeseburguer que você está a ponto de comer no quiosque, contêm informação a ser processada e usada para fins outros. E que fins são esses? Sociais, econômicos, comerciais, estratégicos, políticos, até eleitorais.

Por meio delas, sabe-se quem é mais suscetível a mensagens liberais ou nacionalistas, de esquerda ou de direita ou a favor da Terra redonda ou chata, e manipulá-las de acordo. Você próprio já deve ter recebido mensagens que dizem exatamente o que você “queria dizer” e só não sabia como. Essas informações ficariam ao alcance de organismos com fins específicos. Suspeita-se, por exemplo, que, em 2016, elas tenham influenciado tanto a vitória de Donald Trump na eleição americana quanto o plebiscito que levou à saída do Reino Unido da União Europeia. E podem ter tido algum peso nas duas últimas eleições presidenciais brasileiras. Como não uso Facebook, Instagram, WhatsApp e nem mesmo celular, comentei com um amigo que estava imune. Ele perguntou se eu consultava o Google. Respondi que sim. E ele: “Então, bem-vindo ao clube”.

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