Mundo desmorona, mas Brasil vai bem, obrigado!

A despeito de todas as previsões contrárias, feitas desde o início deste ano, a economia brasileira vai bem obrigado, em contraste com seus pares no exterior. Mais importante, o reconhecimento vem de fora, mediante revisão feita pelo sisudo FMI (Fundo Monetário Internacional), que passou a projetar um crescimento de 1,7% do PIB nacionalpara 2022, e não mais o pífio 0,8%, no cálculoanterior.

Ao mesmo tempo, a maior economia do mundo, os EUA, segundo a previsão do BEA (Bureau of Economic Analysis – Departamento de Análise Econômica, em tradução livre deve recuar (pela segunda vez consecutiva) em 0,9% no segundo trimestre deste ano (2T22), após já ter tombado 1,6% no primeiro terço de 2022 (1T22). Se considerado o critério nacional, a economia estadunidense já estaria na chamada ‘recessão técnica’, quando o recuo da atividade econômica persiste por dois trimestres seguidos. 

Ainda de acordo com o BEA, tal resultado adverso do Tio Sam decorreria “de um menor investimento em estoque e habitação, além da redução de gastos governamentais", ficando a exceção ianque para o avanço de suas exportações e o crescimento das despesas de consumo das famílias.

Outro dado que reforça o bom momento nacional é a recuperação do país – que não ocorria desde 2014 – da 14ª para a 10ª posição no ranking das maiores economias do planeta, segundo consultoria Austing Rating, em estudo referente a março deste ano. 

Ao atingir um PIB de US$ 1,83 trilhão, no primeiro trimestre de 2022, o Brasil deixou para trás a Rússia (US$ 1,83 trilhão); Coréia do Sul (US$ 1,80 trilhão) e Austrália (US$ 1,75 trilhão). No topo da lista, figuram EUA (US$ 25,45 trilhões; (US$ 19,91 trilhões) e Japão (US$ 4,912 trilhões). Juntas, as 15 maiores economias do mundo respondem por um PIB de US$ 78,94 trilhões ou 76,1% de tudo o que é produzido no planeta (US$ 103,72 trilhões).

No que se refere ao ‘ranking internacional de desempenho da atividade econômica’, a Austin classifica o Brasil na 9ª posição, entre 32 países, após ter crescido 1,7% no primeiro trimestre de 2022, no confronto com idêntico período do ano passado. 

Ao comentar que “podemos ser os bonitos numa economia global feia”, o diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Bruno Serra, atribuiu esse melhor desempenho do país a fatores conjunturais e estruturais, como a expansão, a dois dígitos, do montante de crédito, pelo incremento da renda. “Então há demanda positiva”, concluiu.

No comércio exterior, a balança comercial brasileira festeja superávit de US$ 39,63 bilhões este ano (computado até a quarta semana de julho), com exportações crescendo 20,6% (US$ 188,19 bilhões) e importações subindo 31,2% (US$ 148,56 bilhões), amesmo tempo em que a corrente de comércio(soma de exportações e importaçõessubia 25%, batendo US$ 336,75 bilhões. Por segmentos, as vendas agropecuárias se destacam, com crescimento de 47,8% no acumulado do mês de julho (US$ 5,40 bilhões), puxadas pela ampliação dos embarques de milho não moído (+185,6%), café não torrado (+74,6%) e soja (+35,2%). 

As importações, por seu turno, foram turbinadas pelo aumento de 4,3% nas compras agropecuárias (US$ 346,63 milhões);   entradas de trigo e centeio, não moídos (+39,2%), milho não moído, exceto milho doce (+74,8%) e frutas e nozes não oleaginosas, frescas ou secas (+23,2%).

Avanços externos à parte, no front interno, o aumento da arrecadação, ampliação de concessões (rodovias, aeroportos, portos e ferrovias) e novos marcos regulatórios devem impulsionar a construção pesada, a ponto de desta superar a habitação na expansão significativa do setor de infraestrutura, nos anos de 2024 e 2025, estimou o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (Cbic), José Carlos Martins.   

Até 2026, os setores de transporte e logística, e saneamento, deverão receber investimentos de R$ 60 bilhões e R$ 124 bilhões, respectivamente, estima a Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base (Abdib), perfazendo um montante superior a R$ 180 bilhões, por meio de concessões e parcerias público-privadas (PPPs), nas três esferas administrativas (União, estados e municípios). Neste campo, somente a privatização do Porto de Santos deverá render aos cofres federais em torno de R$ 18 bilhões.

Equipe econômica comemora superávit primário recorde

Mas as notícias positivas, pelo menos no caso brasileiro, não param por aí. Que o diga a equipe econômica, ao comemorar um superávit primário recorde de R$ 14,4 bilhões nas contas do governo central em junho últimoanunciado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN), em razão de ganhos não recorrentes (receitas extraordinárias) e adiamento de despesas. Esse desempenho favorável serviu para reverter o saldo negativo de R$ 73,5 bilhões de 2021, além de surpreender o mercado, que trabalhava com um déficit primário de R$ 39,4 bilhões. 

Ao comentar a evolução das contas públicas, o titular da STN, Paulo Valle, revelou que o superávit é o melhor da série histórica, em termos nominais (sem descontar a inflação) e o sétimo, em termos reais (em valores atualizados pela inflação). Igualmente contribuem para a melhoria contábil federal, a concessão de benefícios, como auxílios e a antecipação de distribuição de dividendos por parte de estatais, como Vale do Rio Doce e Petrobras.

Se consolidados, os números do Tesouro e do Banco Central (BC) indicam superávit de R$ 56,8 bilhões, enquanto a Previdência Social apresentou déficit primário de R$ 42,4 bilhões. Para melhor entendimento, resultado primário é a diferença entre receita líquida e despesas, com exclusão da conta de juros da dívida pública. 

No paralelo, acrescenta-se que, também no mês passado, a receita líquida do governo cresceu 53,9%, ao atingir, em termos reais (já descontada a inflação), R$ 190,5 bilhões. Tal performance, por sua vez, foi fortemente influenciada pelo crescimento expressivo das receitas com concessões e dividendos, de 9.659,7% e de 6.804,4%, respectivamente, que totalizaram um aumento de R$ 52,3 bilhões na receita, ou 3,6% superior ao superávit primário de maio. 

Já no quesito despesas, Valle aponta retração de 14,5% no comparativo de junho deste ano para igual mês de 2021, com queda de R$ 29,9 bilhões, sobretudo, devido ao atraso de pagamentos de precatórios referentes a benefícios previdenciários de servidores federais. Também recuaram R$ 9,9 bilhões os gastos com pessoal, no mesmo período, e caíram R$ 11,2 bilhões os chamados ‘desembolsos com sentenças judiciais’. 

Desemprego cai – Outro ponto positivo é o recuo significativo da taxa de desemprego, para 9,3% da população economicamente ativa, no segundo trimestre do ano (2T22), o menor patamar para este período desde 2015, quando chegou a 8,4%, de acordo com dados divulgados na sexta (29) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ou seja, quase 2 milhões de pessoas que conseguiram ocupação no mercado. 

Como reflexo de tantas variáveis favoráveis, o Índice de Confiança dos Serviços (ICS), medido pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) avançou 2,2 pontos, de junho para julho corrente, cravando 100,9 pontos, numa escala de até 200. Mais: essa é a quinta alta consecutiva. Trata-se do maior patamar, desde setembro de 2013, quando chegou a 101,5 pontos, e a primeira vez que supera a barreira dos 100 pontos, desde então. 

Para o economista da FGV, Rodolpho Tobler, mesmo diante da instabilidade natural do iminente período eleitoral, as medidas de estímulo à economia, adotadas pelo Executivo, devem garantir que o terceiro trimestre de 2022 seja igualmente positivo, superando as expectativas iniciais.